Não creio ainda no que sinto,
Teus beijos, meu amor, que são
A aurora ao fundo do recinto
Do meu sentido coração.
Não creio ainda nessa boca
Que, por tua alma em beijos dada,
Na minha boca estaca e toca
E ali fica parada.
Não creio ainda. Poderia
Acaso a mim acontecer
Tu, os teus beijos, e a alegria?
Tudo isto é, e não pode ser.
Tudo o que sinto se concentra
Em te sentir
A boca, o amor, o beijo que entra
E sai a rir.
Tudo o que quero se define
Em sentir preso
Teu lábio contra os meus
Fernando Pessoa
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